No bairro de Namutequeliua, na periferia da cidade de Nampula, é onde vivia o padre Fernão Magalhães Raúl. Vivia apenas com empregado e a irmã mais nova que vive nas proximidades é que desconfiou que algo ia mal, quando até por volta do meio dia deste sábado não recebeu nenhum sinal do irmão.
Houve uma tentativa de ligar e o telefone foi desligado, mas ontem à noite [sexta-feira] havia saído, regressou e entrou. As portas estavam todas trancadas. Liguei para papa para trazer as chaves que era para poder abrir essas duas portas. Pap’á veio, abriu a porta e quando entramos na sala encontramos o corpo, falou Anatércia Magalhães Raúl, irmã do malogrado.
O corpo estava estalado na sala e sem sinais de violência. A secreta’aria-geral do Movimento Democrático de Moçambique, visivilmente abalada com a notícia, preferiu deixar que as autoridades sejam especificadas sobre as causas da morte.
São situações subsequentes que a gente pode, depois, procurar saber. O importante era mesmo saber se aquilo que tinha caído como notícia era verdade ou não, se ele já não estava na vida. O resto vamos saber, há-de se ver, existem entidades próprias para procurar saber, anotou Leonor Lopes, secretária-geral do Movimento Democrático de Moçambique que acorreu à casa do padre para acompanhar tudo de perto e confortar a família enlutada.
Os técnicos do Serviço Nacional de Investigação Criminal foram no local, na tarde deste sábado, 8.10, fizeram a peritagem e por fim removeram o corpo. Presume-se que a morte terá ocorrido na noite de sexta-feira, pois o cenário sugere que antes da morte esteve a assistir televisão.
O padre Fernão Magalhães Raúl desafiou a lei canónica da Igreja Católica que proíbe que os clérigos tenham militância política activa e ele compreendeu muito bem isso.
A Igreja tem uma missão e a missão é a evangelização. Sendo esta mensagem central de difundir a mensagem de Cristo, de paz, de convivência pacífica, de solidariedade, de unidade, valores que a Igreja defende, é importante que a Igreja observe, na sua relação com a comunidade política, o princípio da neutralidade para que não está dividida, disse à nossa reportagem em agosto passado, no lançamento da campanha eleitoral.
E mesmo assim, aceitou apresentar-se como candidato do Movimento Democrático de Moçambique para o cargo de governador da província de Nampula, nas eleições de 9 de Outubro. A Igreja Católica não gostou e através de uma carta ameaçou aplicar a sanção de perda do direito de direcção paroquial, mas mesmo assim, o pai não retirou a candidatura.
Há incompatibilidades ao olhar das pessoas e segundos aqueles que são as regras de neutralidade da própria Igreja, mas é uma questão de liberdade de escolha. Há uma escolha e a escolha é estar ao lado do povo, ajudar o povo a crescer na tomada de consciência de cidadania necessária para lutar junto para resolver os problemas que Moçambique tem e Nampula tem concretamente.
Não consegui cumprir com essa missão na política, mas como padre, deixa muitas salsichas.
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